Eu fiquei sentindo o cheiro da
camisa usada que você esqueceu aqui como de propósito até que se propagasse nas
entranhas do que se faz eterno em mim, tal qual o dia que te vi pela primeira vez.
Guardei para que a memória se recordasse
amiúde, foi uma maneira de enganar meu coração, pois o tempo sempre nos ajuda a
dissipar aquilo que não nos faz bem. Não é tudo que a gente ama que nos faz
bem. O meu sentimento teria que ficar guardado naquele aroma, seria como a
sombra de você que me atormentaria efemeramente num dia qualquer de novembro em
que já não lembraria nem do jeito como você mexia seu cabelo, e que me
encantava. Não me recordarei do gosto de café com leite cheiroso da sua boca,
nem dos seus gemidos molhados na minha cama. Não saberei quem foi aquela que me
escreveu coisas bonitas num pedaço de guardanapo e que tinha medo de banho
frio. Quando a gente arruma o coração mudamos as coisas de lugar e abrimos
espaços para o novo. Você vai ficar naquela gaveta fechada a cadeado que é para
eu não te ver nunca mais, só preciso de uma frecha de luz que é onde vai sair o
sabor do seu cheiro e que vai me trazer não lembranças, pois essas vem em
conjunto com todo o mal que você me fez. Seu perfume vai ser a minha válvula de
escape para você da gaveta já fechada. E sabe qual é a melhor parte? Eu não sei de que flor você comprou o seu perfume.
S. Vaz